quinta-feira, 7 de março de 2013

Santa Maria/RS: Familiares dos sobreviventes da tragédia que seguem internados falam sobre a rotina da espera pela alta


07/03/2013 | N° 3394

SAÚDE

Como estão nossos feridos


Eliane está na Capital acompanhando a recuperação do filho, Delvani, que teve 50% do corpo queimado


Eliane passa 23 horas e 30 minutos do dia aguardando pela meia hora em que poderá estar ao lado do filho Delvani Rosso, 20 anos. É às 14h30min, quando entra na enfermaria do Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre (HPS), recebida pelo sorriso do futuro técnico agrícola, que a vida volta a fazer sentido. O jovem foi o último a ser transferido de Santa Maria para Porto Alegre, no dia 11 de fevereiro. Quando chegou ao HPS, levado pelo coordenador do Samu em Santa Maria, Carlos Dorneles, foi entregue à equipe de médicos com um recado especial do profissional que o salvou:


– Cuida bem desse menino. Ele nos deixou muito emocionados – disse Dorneles, que vive ansioso por notícias de Roso desde a transferência, quando o rapaz conseguiu balbuciar um “muito obrigado” ao socorrista.

A rotina da agricultora de Manoel Viana ainda é compartilhada por pais e familiares de outros 15 jovens que, como Delvani, permanecem internados em hospitais da Capital e de Santa Maria (ontem, ninguém deu alta). Todos se recuperam de procedimentos de enxerto de pele – necessários devido a queimaduras sofridas durante a trágica noite na boate Kiss. Dos feridos, somente um paciente continua em estado grave.

A ansiedade de ver os jovens novamente tocando suas vidas se mistura com a dor ao relembrar os momentos mais críticos vividos desde a madrugada de 27 de janeiro. Mas, ainda que inevitável, a sensação de angústia pôde, desde o início, ser amenizada pelo apoio que receberam de profissionais da saúde, assistentes sociais e voluntários – pelos quais demonstram gratidão por não medirem esforços ao ampará-los e acolhê-los.

– É tanto carinho, que nem sei como agradecer a ajuda de todos. Não me faltou nada – resume Eliane.

Como outras três mães, ela está no alojamento oferecido pelo Sindicato dos Escrivães, Inspetores e Investigadores de Polícia (Ugeirm), que também se responsabiliza pelos gastos com alimentação. Outras famílias se hospedam em casa de parentes, amigos ou em hotéis, que, gratuitamente, disponibilizaram quartos.

Solidariedade tomou conta de Santa Maria e da Capital

Em Santa Maria, as duas últimas famílias com pacientes internados dizem receber ajuda do Hospital de Caridade e de voluntários. A Secretaria Municipal de Ação Comunitária, no entanto, afirma que qualquer ajuda pode ser solicitada por meio das equipes técnicas presentes no hospital. Em Porto Alegre, foi montado o Centro de Hospitalidade. O espaço, instalado pela Secretaria Municipal de Saúde, presta atendimento psiquiátrico, psicológico, de assistência social, alimentar e disponibiliza recursos para o transporte das famílias.

– A rede de solidariedade que se formou foi grandiosa desde o primeiro dia. Agora, estamos reduzindo a equipe, conforme diminui a demanda. Mas teremos equipes acompanhando familiares até o momento em que não precisarem mais, mesmo que isso leve meses – garante a psicóloga Lívia Almeida, coordenadora do Centro de Hospitalidade.

Eliane diz não ter do que reclamar dos dias em Porto Alegre. Longe disso. Mas não vê a hora de poder levar Delvani para casa, o único ferido que permanece no HPS. A última a receber alta foi Tatiane Lais Pires Andreolla, que, antes de deixar o hospital, foi até o leito do jovem. Deixou-lhe revistas, atirou-lhe um beijo e deu um recado:

– Te cuida, Delvani, que logo a tua hora vai chegar!

Acompanhando a melhora do paciente, as enfermeiras confessam já sentir saudade. Parece faltar pouco.

– Esse rapazinho tá com o pé que é um leque. Louco pra ir embora – ressalta uma delas.
BRUNA SCIREA E ITAMAR MELO

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