quinta-feira, 7 de março de 2013

Santa Maria/RS: Funcionário de boate conta detalhes da colocação da espuma para abafar o som


07/03/2013 01h42min

Braço direito do sócio Elissandro Sphor, o Kiko, Ricardo de Castro Pasch

falou à polícia sobre a compra do material e a fiscalização dos bombeiros

Ronald Mendes / Agencia RBS

Namorado da irmã do empresário Elissandro Spohr, o Kiko, sócio da boate Kiss, e funcionário por cerca de dois anos da casa noturna, Ricardo de Castro Pasch, 31 anos, fez revelações importantes em depoimento à polícia ao qual Diário de Santa Maria e Zero Hora tiveram acesso. O relato faz parte do inquérito com cerca de 6 mil páginas, mantido em sigilo pelos investigadores.
Encarregado de orientar os funcionários, resolver "problemas que ocorriam" durante as festas e comprar bebidas e materiais, Pasch admitiu que comprou em uma loja de colchões a espuma usada para solucionar a acústica da Kiss. Além disso, contou que, em pelo menos uma ocasião, artefatos pirotécnicos foram testados no chão por um funcionário para dimensionar a altura que o fogo alcançaria. Confira abaixo os principais trechos do depoimento de Pasch, que se define como o braço direito de Kiko:
A espuma
Colocada por causa das reclamações da vizinhança decorrentes do barulho, a espuma preta — apontada como uma das principais causas da morte das 240 pessoas — teria sido indicada por um engenheiro contratado. Pasch afirmou que primeiramente ela foi colocada em toda parede à esquerda de quem entrava no local. como não resolveu o problema do barulho e "estava sem uso", foi trocada de lugar pelos funcionários da boate e colocada acima e atrás do palco. Segundo Pasch, por orientação de Kiko, o material foi comprado em uma loja de colchões na Avenida Nossa Senhora das Dores.
Fogos de artifício na boate
No depoimento, o funcionário disse que não tinha conhecimento de que a banda Gurizada Fandangueira iria utilizar artefatos pirotécnicos durante o show. No entanto, afirmou que lembra a vez em que o técnico de som da boate testou fogos no chão para ver a dimensão que eles teriam. Além disso, disse recordar a vez em que um grupo fez uma apresentação onde "cuspiam fogo", e declarou que Kiko proibiu este tipo de show.
Fiscalização dos bombeiros
Após a troca de lugar da espuma da parede para o teto, Pasch acredita que não houve fiscalização dos bombeiros. No entanto, lembra que, em uma renovação de alvará, houve uma vistoria e que a espuma já estava na parede lateral. Nesta fiscalização teriam sido solicitadas "diversas mudanças nos extintores, luzes, placas de saída, barra antipânico etc". A porta da boate teria sido aprovada, mesmo com a contestação do sócio de Kiko, Mauro Hoffmann, dizendo que estava pequena. Foi cogitada pelos sócios a abertura de uma porta no lado esquerdo de quem entra na boate.
Na última vez que tentou renovar o alvará de incêndio, Pasch foi orientado pelos bombeiros a levar a nota de renovação da carga dos extintores e o pagamento de uma guia para que eles fizessem nova vistoria, que, segundo ele, nunca foi feita.
O momento do incêndio
Após atender uma ligação da namorada às 2h37min de 27 de janeiro, Pasch voltou para dentro da boate e ficou perto da porta. Minutos depois notou que uma pessoa da banda estava no palco com o extintor na mão e chamou Kiko. Ao notar o problema, teria sinalizado com os braços e gritado para as pessoas saírem. Tentou ligar para os bombeiros e para a Brigada Militar, mas ninguém teria atendido. Avisou, por telefone, o sócio Mauro Hoffmann, e chegou a pedir ajuda para os taxistas buscarem socorro. Para Pasch, o auxílio estava prejudicado pois "eram poucos bombeiros e estavam despreparados".
As reformas
Ao declarar que muitas reformas foram feitas na boate, Pasch disse que o sócio de Kiko, Mauro Hoffmann, tinha conhecimento de tudo que ocorria na casa noturna e que nada era feito sem o consentimento dele. Ele disse que a execução de diversas obras para melhorar a acústica ocorreram entre janeiro e fevereiro de 2012.
Lotação da boate
Com mil comandas para distribuir nas festas, a boate já teria comportado mais do que este número de pessoas após a última reforma. Pasch disse que, normalmente, "quando a casa atingia a lotação de 800 pessoas, só entravam outras se saísse alguém".

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