domingo, 19 de outubro de 2014

Contos & Crônicas: "A BOLA DO PAULINHO"





Quando eu tinha dez, doze anos de idade, eu como todo menino, gostava muito de jogar bola, muito embora a minha relação com aquele “objeto esférico nunca foi das mais íntimas.

Nós tínhamos um campinho improvisado no final da rua, lá as traves eram sempre os chinelos de alguém, e não tinha goleiros, por isso o tamanho do gol era reduzido.

A rua aonde acontecia o jogo, ficava no alto de uma lombada, em cima do túnel, portanto se alguém chutasse a bola um pouco fora de direção, ela iria cair no meio da avenida, aí o dono da bola poderia esquecer porque era impossível de se recuperar a bola.

Um dia, o meu melhor amigo, o Paulinho trouxe a bola mais bonita que a gente lá da rua tinha visto, era uma bola de couro da marca “Adidas”, era a mesma bola oficial usada na copa do mundo, a bola era realmente de tirar água dos olhos, e o Paulinho não queria deixar a gente usar ela lá na rua, dizia que a gente iria estragar ela e tudo mais. Mas depois de uns vinte minutos, convencemos o Paulinho a deixar a gente jogar com a bola dele.

Tudo estava pronto, os dois times estavam com muita vontade de ganhar aquele jogo, era a final do campeonato, que campeonato? Sei lá, todo jogo na minha cabeça era uma decisão de campeonato, deveria ser o garoto que havia decidido mais finais de campeonato no mundo.

Pois bem, estávamos loucos para dar um chute naquela bola, fui eu que tive a honra de dar o pontapé inicial da partida, então olhei para aquela bola reluzente, limpinha, branquinha e dei o chute mais forte que poderia dar, a bola foi se encaminhando para a direção do gol, só que ela ganhou um pouco mais de efeito que eu esperava, e acabou indo para fora, bem para fora, para fora inclusive da rua, acabou caindo e descendo a lombada abaixo.

O pessoal da rua ficou uma fera comigo naquele dia, isso sem falar no Paulinho, que deixou de ser o meu melhor amigo desse dia em diante, porque além de ter perdido a bola, que fora um presente de seu avô, o Marquito ficou dois meses de castigo por ter desobedecido a sua mãe, que lhe dera ordens específicas para que ele não jogasse futebol lá na rua com aquela bola.

E foi assim que aos dez, doze anos de idade, estraguei a minha vida toda, porque hoje sentado aqui na cadeira dos réus, reconheci o juiz da minha sentença, o magistrado era nada mais nada menos que um velho amigo de infância, um ex-melhor amigo, que ao me ver, fez enorme questão de me reconhecer, e veio até a minha direção para poder me dizer:


Tá lembrado da minha bola, infeliz?


Do livro NUNCA antes (e nem depois, eh; eh!) publicado...
"EM BUSCA DE PEGASUS"!
Autor: Cesar "Xyko" Borges

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