Quando eu tinha dez, doze
anos de idade, eu como todo menino, gostava muito de jogar bola, muito embora a
minha relação com aquele “objeto esférico” nunca foi das mais íntimas.
Nós
tínhamos um campinho improvisado no final da rua, lá as traves eram sempre os
chinelos de alguém, e não tinha goleiros, por isso o tamanho do gol era
reduzido.
A rua aonde acontecia o jogo, ficava no alto de uma lombada, em cima
do túnel, portanto se alguém chutasse a bola um pouco fora de direção, ela iria
cair no meio da avenida, aí o dono da bola poderia esquecer porque era
impossível de se recuperar a bola.
Um dia, o meu melhor amigo,
o Paulinho trouxe a bola mais bonita que a gente lá da rua tinha visto, era uma
bola de couro da marca “Adidas”, era a mesma bola oficial usada na copa do
mundo, a bola era realmente de tirar água dos olhos, e o Paulinho não queria
deixar a gente usar ela lá na rua, dizia que a gente iria estragar ela e tudo
mais. Mas depois de uns vinte minutos, convencemos o Paulinho a deixar a gente
jogar com a bola dele.
Tudo estava pronto, os dois
times estavam com muita vontade de ganhar aquele jogo, era a final do
campeonato, que campeonato? Sei lá,
todo jogo na minha cabeça era uma decisão de campeonato, deveria ser o garoto
que havia decidido mais finais de campeonato no mundo.
Pois bem, estávamos
loucos para dar um chute naquela bola, fui eu que tive a honra de dar o pontapé
inicial da partida, então olhei para aquela bola reluzente, limpinha,
branquinha e dei o chute mais forte que poderia dar, a bola foi se encaminhando
para a direção do gol, só que ela ganhou um pouco mais de efeito que eu
esperava, e acabou indo para fora, bem para fora, para fora inclusive da rua,
acabou caindo e descendo a lombada abaixo.
O pessoal da rua ficou uma fera
comigo naquele dia, isso sem falar no Paulinho, que deixou de ser o meu melhor
amigo desse dia em diante, porque além de ter perdido a bola, que fora um
presente de seu avô, o Marquito ficou dois meses de castigo por ter
desobedecido a sua mãe, que lhe dera ordens específicas para que ele não
jogasse futebol lá na rua com aquela bola.
E foi assim que aos dez,
doze anos de idade, estraguei a minha vida toda, porque hoje sentado aqui na
cadeira dos réus, reconheci o juiz da minha sentença, o magistrado era nada
mais nada menos que um velho amigo de infância, um ex-melhor amigo, que ao me ver, fez enorme questão de me
reconhecer, e veio até a minha direção para poder me dizer:
Tá lembrado da minha bola, infeliz?
Do livro NUNCA antes (e nem depois, eh; eh!) publicado...
"EM BUSCA DE PEGASUS"!
Autor: Cesar "Xyko" Borges
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