Era uma daquelas tardes
sufocantes, calorosas e modorrentas de fevereiro, típica da depressão central
gaúcha.
Mais precisamente na cidade
de Santa Maria (RS).
40° C à sombra!
Apesar do intenso calor, não
mais agüentava mais morgar em casa.
Saí então à procura de
alguma inspiração, fui em busca de
Pégasus!
Não havia uma leve brisa,
sequer uma folha balançava nas árvores... sequer havia folhas!
Alguns poucos metros depois,
sentia - me em pleno deserto do Saara.
Procurava desesperadamente
um “oásis” e, no meu caso, era o mais próximo bar que eu pudesse encontrar uma "loura gelada" (cerveja gelada", na gíria tipicamente brasileira).
Encontrei. Era na esquina da
rua Pinheiro Machado; com a rua do Acampamento.
Hoje em dia, é uma Farmácia.
Lembro até hoje, haviam duas
portas, a primeira era a entrada pela rua do Acampamento e a segunda pela rua
Pinheiro Machado. Adentrei pela primeira porta que vi.
Ao dirigir-me ao fundo do
estabelecimento, notei atrás do balcão, à minha esquerda, um taciturno, porém
educado senhor que deveria ser o proprietário, vestindo um surrado e suado
avental e que de pronto veio solicitamente me atender junto à mesa que escolhi.
Havia dois ventiladores de
teto que de nada adiantavam naquele momento. Olho a porta que estava a minha
esquerda, miro o asfalto e as miragens que aquele calor prega à minha visão.
Nesse meio que tempo em que
o proprietário foi buscar o meu pedido, adentra ao local, uma família de negra
cor.
Por força ou uma dessas
ironias do destino das quais nunca prevemos ou chegamos sequer a compreender,
sentam justamente na mesa à minha frente.
O pai vestindo uma alva
camisa de algodão, calça social da mesma cor e impecável vinco, sapatos pretos.
A mãe vestia um justo, porém
bem comportado vestido da mesma cor e uma menininha que não devia ter mais que
cinco seis anos usando um típico vestidinho branco para a idade e é claro,
sapatinhos e meias de idêntica cor e charme. Sua imagem remetia-me à lembrança
de um inocente anjo. Em outras palavras, pareciam estar trajando aquela
característica roupa de... “Domingo na Missa”.
Sempre cabisbaixos; reparo
que são muito humildes.
Retorna o senhor que deixa
sobre a mesa, a minha cerveja, meu copo e rapidamente, porém de rude maneira
dirige-se e atende a mesa à minha frente.
Noto que tanto a expressão e
as maneiras dele são rudes para com a família.
O pai pede uma Coca-Cola e
uma fatia de bolo que com aquele calor, resistia miraculosamente dentro do
balcão transparente e refrigerado.
Resmungando algo que não
entendi, aquele senhor vai buscar o pedido feito, não sei antes de imediato,
vai cobrar o valor do pai de família, o qual retira do bolso; surradas e
amassadas notas de reais.
Retorna o proprietário e
praticamente “joga” o refrigerante, os copos e o prato com bolo sobre a mesa da
já envergonhada família que sequer levantava a cabeça.
E é nesse exato momento em
que o proprietário afasta-se, que a mãe retira de dentro de sua bolsa que
estava sob a mesa, um cilíndrico objeto, do qual logo em seguida, identifiquei
como uma vela já um tanto gasta.
Rapidamente ela coloca sobre
a fatia de bolo e em perfeita sincronia, o pai a acende com um fósforo. Humildemente, de forma uníssona no cantar e bater de palmas, porém
quase que imperceptível ao ouvido humano, percebo uma melodia que logo
reconheço como um:
“Parabéns a você...!”
Até então, aquela família
não havia notado a minha presença, pois estavam preocupados demais com a
impressão que podiam causar, mas por incompreensível expressão divina aos seres
mortais, àquela pequena aniversariante, que pela alegria pura e inocente, devia
sentir-se no sétimo céu, volta-se para trás, olha-me fixamente e abre um longo
e angelical sorriso, o qual me transmite muita “pax” e alegria de espírito.
Assim eu queria sempre ser
lembrado, com a pureza daquele sorriso e assim vou encerrar esse livro!
TEREI ENCONTRADO ENTÃO... PÉGASUS!
Do livro NUNCA antes (e nem depois, eh; eh!) publicado...
"EM BUSCA DE PEGASUS"!
Autor: Cesar "Xyko" Borges
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