segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Contos & Crônicas: "EM BUSCA DE PÉGASUS..." (humilde homenagem ao Dia Mundial do Escritor)



Era uma daquelas tardes sufocantes, calorosas e modorrentas de fevereiro, típica da depressão central gaúcha.

Mais precisamente na cidade de Santa Maria (RS).

40° C à sombra!

Apesar do intenso calor, não mais agüentava mais morgar em casa.

Saí então à procura de alguma inspiração, fui em busca de Pégasus!

Não havia uma leve brisa, sequer uma folha balançava nas árvores... sequer havia folhas!

Alguns poucos metros depois, sentia - me em pleno deserto do Saara.

Procurava desesperadamente um “oásis” e, no meu caso, era o mais próximo bar que eu pudesse encontrar uma "loura gelada" (cerveja gelada", na gíria tipicamente brasileira).

Encontrei. Era na esquina da rua Pinheiro Machado; com a rua do Acampamento.

Hoje em dia, é uma Farmácia.

Lembro até hoje, haviam duas portas, a primeira era a entrada pela rua do Acampamento e a segunda pela rua Pinheiro Machado. Adentrei pela primeira porta que vi.

Ao dirigir-me ao fundo do estabelecimento, notei atrás do balcão, à minha esquerda, um taciturno, porém educado senhor que deveria ser o proprietário, vestindo um surrado e suado avental e que de pronto veio solicitamente me atender junto à mesa que escolhi.

Havia dois ventiladores de teto que de nada adiantavam naquele momento. Olho a porta que estava a minha esquerda, miro o asfalto e as miragens que aquele calor prega à minha visão.

Nesse meio que tempo em que o proprietário foi buscar o meu pedido, adentra ao local, uma família de negra cor.

Por força ou uma dessas ironias do destino das quais nunca prevemos ou chegamos sequer a compreender, sentam justamente na mesa à minha frente.

O pai vestindo uma alva camisa de algodão, calça social da mesma cor e impecável vinco, sapatos pretos.

A mãe vestia um justo, porém bem comportado vestido da mesma cor e uma menininha que não devia ter mais que cinco seis anos usando um típico vestidinho branco para a idade e é claro, sapatinhos e meias de idêntica cor e charme. Sua imagem remetia-me à lembrança de um inocente anjo. Em outras palavras, pareciam estar trajando aquela característica roupa de... “Domingo na Missa”.

Sempre cabisbaixos; reparo que são muito humildes.

Retorna o senhor que deixa sobre a mesa, a minha cerveja, meu copo e rapidamente, porém de rude maneira dirige-se e atende a mesa à minha frente.

Noto que tanto a expressão e as maneiras dele são rudes para com a família.

O pai pede uma Coca-Cola e uma fatia de bolo que com aquele calor, resistia miraculosamente dentro do balcão transparente e refrigerado.

Resmungando algo que não entendi, aquele senhor vai buscar o pedido feito, não sei antes de imediato, vai cobrar o valor do pai de família, o qual retira do bolso; surradas e amassadas notas de reais.

Retorna o proprietário e praticamente “joga” o refrigerante, os copos e o prato com bolo sobre a mesa da já envergonhada família que sequer levantava a cabeça.

E é nesse exato momento em que o proprietário afasta-se, que a mãe retira de dentro de sua bolsa que estava sob a mesa, um cilíndrico objeto, do qual logo em seguida, identifiquei como uma vela já um tanto gasta.

Rapidamente ela coloca sobre a fatia de bolo e em perfeita sincronia, o pai a acende com um fósforo. Humildemente, de forma uníssona no cantar e bater de palmas, porém quase que imperceptível ao ouvido humano, percebo uma melodia que logo reconheço como um:

“Parabéns a você...!”

Até então, aquela família não havia notado a minha presença, pois estavam preocupados demais com a impressão que podiam causar, mas por incompreensível expressão divina aos seres mortais, àquela pequena aniversariante, que pela alegria pura e inocente, devia sentir-se no sétimo céu, volta-se para trás, olha-me fixamente e abre um longo e angelical sorriso, o qual me transmite muita “pax” e alegria de espírito.

Assim eu queria sempre ser lembrado, com a pureza daquele sorriso e assim vou encerrar esse livro!

TEREI ENCONTRADO ENTÃO... PÉGASUS!


Do livro NUNCA antes (e nem depois, eh; eh!) publicado...
"EM BUSCA DE PEGASUS"!
Autor: Cesar "Xyko" Borges

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