domingo, 13 de março de 2016

Contos e Crônicas: SOLTANDO A FRANGA...


Imagine-se no interior de um galinheiro velho; fedegoso; sujo; cheio de penosas dormindo.

Tente... IMAGINOU?

Agora inclua chuva. E das pesadas, daquelas de ensurdecer mesmo. Acrescente um senhor nervoso, armado com uma espingarda calibre 12 cano duplo, furioso, procurando você.

Como se já não fosse suficiente o azar... Sente em uma galinha sem querer...!!!

Cocorécooo...

Bem vindo a minha vida!

Tudo começou quando conheci Rosaldina. Moça de típica beleza interiorana. Estilo...

Presença de Anita”, um misto de anjo e sensualidade distribuídos num corpo escultural, cabelos doirados e soltos ao vento; olhos azuis celestes; sardas clarinhas; lábios rubros, carnudos, um sorriso aberto e...

Com dois dentes (Um devia ser para abrir garrafa, o outro para doer!)!

Viu-me parado na estrada, perto de sua fazenda, veio ajudar:

Pobrema cô carro, dotô?

Encantei - me.

Nunca ninguém em toda a minha vida, havia me chamado de doutor. Finalmente uma mulher que me respeitava e compreendia.

Troquei as duas rodas do meu carro. Sim, duas. Sempre ando com dois estepes, porque meu pneu quando fura, fura de dois.

Ficamos ali conversando, prosa boa, até que ela me convidou pra entrar. Pensei em não aceitar.

Fácil assim só poderia acabar mal, sou um realista.

Mas, ora, que mal haveria?

Entramos, ela serviu um café com graspa; frio. Um bendito de um gato ficou roçando minha perna. Não sei se já disse isso, mas odeio gatos.

Conversa vai, conversa vem, pinta um clima, rola um sentimento... Parti logo para os "finalmentes". 

Tasquei lhe um beijo de sossegar leão e mandei ver.

A coisa tava boa oigalê, ficando quente mesmo... Pegando fogo!

Fogo?

Fooooogooooo...!!!

Sem reparar, aproximamo-nos demais do fogão à lenha que estava aberto e... Aceso. Ela podia ter esquentado o café ali.

Seu vestido começou a pegar fogo. Joguei o café... Aumentou ainda mais a chama...

Cafezinho forte Tchê!

Agora ela gritava e corria pela enorme cozinha e eu, no meio parado, não sabia o que fazer.

Pensando agora, eu devia jogar água, mas quem pensa nessas coisas difíceis nessas horas?

Pra piorar mais ainda, batem na porta.

Era o pai de Rosaldina, seu “Rosaldão”.

Quando ele abriu a porta com força, juro; o fogo da moça apagou!

Agora você pense bem, eu estava no meio da cozinha, o gato grudado em minha perna, assustado; a menina com meio vestido e o pai dela com um facão 03 listras numa mão e a garrucha na outra. Tentei o diálogo, sou um diplomata

¡Buenas tardes, Tchê!

Não sei se ele achou que era uma provocação, se não entendeu ou se simplesmente não era praticante da arte do diálogo. Só sei que apontou a arma pra mim e eu pulei janela afora anabolizado pelo café da minha deusa.

A qualquer momento ele vai me achar aqui nesse galinheiro fedido. Ironicamente, estou molhado como um pinto, tremendo que nem vara verde ao vento; quase ouço a respiração do sogrão pertinho.

A porta abre, o velho é curto e grosso:

Vai te que “cazá”, Tchê!

- O senhor sabe que era exatamente isso que eu vim aqui fazer hoje? Pedir a mão da sua filha em casamento. A gente se conhece lá da igreja...

Ainda fui convidado pra jantar.

A menina, no canto da mesa completamente muda, não fala nada.

Tem mais medo que eu, como se isso fosse possível.

Se eu conseguir sair dessa vivo, juro por Deus...

Nunca mais como galinha caipira!


Do livro NUNCA antes (e nem depois, eh; eh!) publicado...
"EM BUSCA DE PEGASUS"!
Autor: Cesar "Xyko" Borges

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