sábado, 16 de abril de 2016

Porto Alegre / RS: Carro que disputava suposto racha no RS estava a 116 km/h, diz perícia

15/04/2016 19h58 - Atualizado em 15/04/2016 19h58

Laudo da perícia foi apresentado na conclusão do inquérito nesta sexta.

Motorista de Audi foi indiciado por atropelar casal na madrugada do dia 2.

Do G1 RS
Laudo da perícia apontou que o Audi envolvido em um acidente que resultou no atropelamento de um casal em Porto Alegre durante um suposto racha andava a 116 km/h quando ocorreu a colisão. A informação foi divulgada na tarde desta sexta-feira (15), dia da conclusão do inquérito.A polícia pediu prisão preventiva do motorista Thiago Brentano, 39 anos, indiciado por duas tentativas de homicídio qualificado.
O acidente aconteceu na madrugada de 2 de março. O carro de Brentano ultrapassou o sinal vermelho e colidiu com um táxi. Outros dois automóveis se envolveram na colisão, e um deles atingiu um terceiro automóvel, que atropelou um casal que caminhava no Parcão. O delegado Carlo Butarelli, responsável pelo caso, disse que a velocidade comprova a participação dele em um racha.
O indivíduo que pega seu veículo a uma velocidade de 116 km/h, na Rua 24 de Outubro, ultrapassa o sinal vermelho, para mim, pratica uma roleta russa”
Carlo Butarelli,
delegado
"Temos absoluta certeza", disse Butareli. "Ele já havia sido suspenso. Se acha acima da lei, não cumpre a suspensão e, se solto, representa um risco à sociedade", complementou.
Butarelli observou que a velocidade em que ele estava é superior à permitida em trechos da freeway, onde o limite é 110 km/h. "O indivíduo que pega seu veículo a uma velocidade de 116 km/h, na Rua 24 de Outubro, ultrapassa o sinal vermelho, para mim, pratica uma roleta russa."

Para o delegado, o acidente poderia ter sido mais grave. "(Ele) poderia não ter só atingido aquelas duas pessoas, poderia ter atingido uma família inteira que estava com seu carro. Ele não mensurou o perigo que ele provocou naquela atitude."

A polícia tenta identificar o outro motorista envolvido na corrida, já que Butarelli descartou a participação do dentista Sandro Flamia, como o condutor que aparece nas imagens de câmeras de monitoramento. "Ele estava na festa, ele saiu junto, mas a duas quadras antes, na Rua Coronel Bordini entrou à direita e, a partir daí, ele não estava mais no momento do racha", explicou o delegado.
Qualificadores
Em entrevista coletiva, o delegado Carlo Butarelli, responsável pelo caso, explicou que os qualificadores são motivo fútil – a suspeita de racha –, o uso do veículo como arma e a impossibilidade de defesa das vítimas. "Ele cruzou em alta velocidade, não se importando com o que tinha pela frente. Fugiu e não se preocupou com vítimas", disse.
Dono do Audi, Thiago Brentrano (esq), chegou em delegacia com advogado (Foto: Reprodução/RBS TV)Dono do Audi, Thiago Brentrano (esq) chegou a
delegacia com advogado (Foto: Reprodução)
O advogado Jader Marques, que representa Brentano no caso, contesta o pedido do delegado alegando que o suspeito colaborou "efetivamente" com a investigação, "inclusive elucidando pontos que estavam equivocados". No entanto, ele diz ter orientado seu cliente a permanecer em casa aguardando a decisão do Judiciário. "Ele não vai tomar nenhum tipo de atitude contrária", garante.
Marques também contesta o indiciamento do delegado. Ele considera equivocado o conceito de tentativa de homicídio com dolo eventual (quando se assume riscos de matar). "A tentativa pressupõe a vontade de executar o crime até o final, o que não acontece por circunstância alheia ao agente", justifica.
Para o defensor, a repercussão do caso influenciou no indiciamento. "Faz parte de uma tentativa dos órgãos de acusação de agravar o enquadramento legal, como forma de dar uma resposta exatamente para esse apelo de mídia".
Depoimento
O motorista prestou depoimento por cerca de uma hora e meia na tarde de quarta (13) no Palácio da Polícia. Segundo Marques, ele reconheceu que havia bebido duas garrafas long neck de cerveja, negou que estivesse disputando um racha e afirmou não ter visto que um casal havia sido atropelado na ocasião, e por isso deixou o local.
Foi a segunda vez que Brentano compareceu à delegacia. Na primeira, em 4 de abril, ele permaneceu em silêncio. Ele comentou o fato de uma comanda do estabelecimento em que estava ter apontado a compra de 10 garrafas, afirmando que compartilhou a bebida com amigos. "Há provas que as demais bebidas foram consumidas na festa por demais pessoas e que sobrou saldo no cartão", observou Marques.
Brentano admitiu para o delegado Carlo Butarelli, responsável pelo caso, que estava "sem condições de dirigir" o carro. "Ele afirma seu erro de ter utilizado o veículo naquela noite", confirmou o advogado.
Veículo de luxo participava do racha em Porto Alegre (Foto: Zete Padilha/ RBS TV)Audi participava de suposto racha em Porto
Alegre (Foto: Zete Padilha/ RBS TV)
Em relação ao suposto racha, o advogado disse que a versão de Brentano é que ele não conhecia o motorista do outro carro que trafegava ao seu lado. Diz que acelerou por receio de que se tratava de uma tentativa de assalto. Entretanto, ele negou que o outro veículo seria um Camaro. "O Camaro dobrou a (Rua Coronel) Bordini à direita e não foi o veículo identificado naquele vídeo que nós podemos ver na internet. Aquele carro não é um Camaro", disse Marques.
Ainda conforme o advogado, Brentano disse que não costuma dirigir, já que teve a habilitação suspensa, e que o Audi estava provisoriamente com ele para a realização de um negócio. Marques afirma que notas fiscais de táxis e Uber confirmam que ele costuma utilizar estes serviços para se locomover.
Segundo a Polícia Civil, Brentano estava com a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) suspensa e tem 52 multas de trânsito.

Butarelli ainda espera pelo resultado do exame da perícia, que vai apontar a velocidade que o veículo estava na hora da batida. Na terça-feira (12), dois policiais militares prestaram depoimento e confirmaram que Brentano participava de um racha antes do atropelamento. Os PMs estavam no cruzamento das ruas Doutor Timóteo com a 24 de Outubro quando dois veículos passaram em alta velocidade por eles, um deles o Audi.

Conforme o delegado Butarelli, os PMs chegaram a iniciar uma perseguição. Entretanto, uma quadra adiante, o Audi cruzou o sinal vermelho e colidiu em um táxi que havia passado pelo sinal verde. Na sequência, o carro acabou atingindo um veículo que estava estacionado. Com o impacto, o automóvel que estava parado foi jogado para cima do casal, que passeava no Parcão.
Os PMs foram os primeiros a chegar no local e se preocuparam em prestar socorro aos feridos. Logo após, entretanto, um deles começou a perseguição ao motorista do Audi, que teria fugiu à pé por dentro do Parcão (assista ao vídeo), segundo relato dos policiais. Ele acabou perdendo o homem de vista e desistiu do acompanhamento. No entanto, o delegado relata que os PMs não conseguiram reconhecer o homem. 

Para a polícia, o depoimento deles comprova a participação do dono do Audi em um racha e ainda reforça que Brentano estava dirigindo o veículo. Na segunda-feira (11), o homem que estava na carona do veículo afirmou que o amigo estava na direção. "O carona confirmou que era o Thiago o motorista do carro. Agora temos a certeza de quem estava na direção", disse o delegado ao G1.
Ainda durante o depoimento, o passageiro não confirmou o racha. "Ele disse que estava mexendo no celular e sentado no banco, não viu o que estava acontecendo", explicou Butarelli.

Além dos PMs, uma viatura da EPTC também estava no cruzamento das ruas Doutor Timóteo com a 24 de Outubro. Os agentes de fiscalização de trânsito teriam visto o racha e se deslocado até o ponto do atropelamento. Por isso, eles também devem ser ouvidos. Um outro taxista também vai prestar depoimento.
Além do carona, a polícia ouviu também o suposto motorista do Camaro que estaria no racha, o dentista Sandro Flamia. No entanto, ele negou que estivesse no local no momento do acidente, o que ainda será investigado.
"Ouvimos o motorista do Camaro, na condição de testemunha, pois não temos certeza que é o Camaro dele. Ele falou que é amigo do Thiago, e que no momento [do acidente] aquele Camaro não estava lá. Ele havia entrado à direita algumas ruas antes", afirmou o delegado.

Para a RBS TV, o dentista Sandro Flamia voltou a afirmar que não era o carro dele flagrado nas imagens. "Não tem nada a ver com o meu carro, vocês vão ver depois.(...) Eu tenho certeza absoluta, o meu carro não é aquele lá."
O motorista disse que encontrou na festa o condutor do Audi, que é seu amigo. "Me viram lá na festa com ele e aí acharam que era eu. (...) Não faço parte disso tudo."
O caso
Na madrugada de sábado, dia 2 de abril, o motorista do Audi trafegava em alta velocidade pela Avenida 24 de Outubro. Depois de passar o sinal vermelho, na esquina com a Rua Olavo Barreto Viana, o veículo se chocou contra um táxi, e depois atingiu um veículo que estava estacionado ao lado do Parcão.
Vítima de atropelamento Thomaz Coletti prestou depoimento à polícia (Foto: Josmar Leite/RBS TV)Vítima de atropelamento Thomaz Coletti, 25 anos,
prestou depoimento (Foto: Josmar Leite/RBS TV)
Com o impacto, o automóvel subiu a calçada e atropelou o casal de jovens. Eles foram encaminhados a hospitais.
O homem prestou depoimento após receber alta. "Foi algo muito rápido, não teve tempo de reação porque não havia como ter reação (...) espaço curto de tempo devido à velocidade que carro vinha", relatou Thomaz Coletti, de 25 anos.
Também havia um carona no Audi, que teve ferimentos leves no acidente. O taxista Marco Gaudério relatou, após o acidente, que os carros passaram em alta velocidade.
"Eu me lembro que o sinal estava aberto pra mim. Eu estou descendo e, quando vi, o cara me bateu. Ele vinha muito rápido, não deu pra ver nada. Só fiquei em estado de choque, é uma coisa que a gente não espera", afirmou ele após o susto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário