09/01/2012 18h34
- Atualizado em
09/01/2012 19h25
Jovem levou empurrões e um tapa durante abordagem no campus.
Ação de sargento foi filmada e divulgada na internet.

Vídeo divulgado na internet mostra ação de policial (Foto: Reprodução/Youtube)
O policial que sacou uma arma e ameaçou um estudante no campus da USP,
na Zona Oeste de São Paulo, nesta segunda-feira (9), foi afastado da
corporação pela cúpula da PM. A confusão foi gravada por estudantes e o
vídeo acabou na internet.
Segundo o coronel Wellington Venezian, comandante do policiamento na
Zona Oeste da capital, um outro soldado que estava lá também foi
afastado. As imagens mostram o momento em que alunos, guardas
universitários e o policial conversam próximo ao prédio que pertenceu ao
DCE e que foi desocupado na quinta (5).
O PM pergunta a um dos jovens se ele é aluno. O homem diz que é, mas o
policial insiste e pede para que mostre a carteirinha da universidade.
“Tenho minha palavra”, respondeu o rapaz.
O jovem é puxado com força pelo PM, que saca a arma e a coloca de volta
no coldre. Os guardas e os alunos pedem calma e o jovem é levado para a
frente do edifício. Lá, recebe mais alguns empurrões e um tapa.
Em entrevista coletiva realizada no fim desta tarde no Quartel do
Comando Geral da Polícia Militar, no Centro de São Paulo, o coronel
classificou o fato como grave. Ele disse que a polícia não concorda com a
atitude de “força e violência”.
A PM também determinou a abertura de uma sindicância para investigar o
incidente. A sindicância dura 40 dias e pode acarretar desde uma
repreensão até a expulsão dos policiais da corporação.
Os estudantes
envolvidos devem ser convidados a falar.
O coronel afirmou que o policial vai passar por um acompanhamento
psicológico e que ele não tinha histórico de abuso de autoridade. Ele
atua na USP desde que o convênio entre a universidade e a PM foi
firmado. A corporação classificou a atitude como desequilíbrio
emocional.
“Conversei com o sargento e ele disse que foi desobedecido. Ele
reconheceu que ficou muito nervoso e perdeu o controle emocional.” Os
estudantes envolvidos devem ser convidados a falar na sindicância.
Em outro vídeo divulgado pelos estudantes,
o policial envolvido diz que não fez “nada de errado”. “Que agredi, o
quê”, respondeu ao ser indagado por um aluno. “Você está me provocando?
Vai fazer denúncia. Vai fazer denúncia”, afirmou. Uma jovem quis ver o
nome e a patente do policial, mas ele retirou a identificação da lapela.
“Por que você quer ver meu nome? Não quero mostrar o meu nome.”
No segundo vídeo, o jovem agredido também dá sua versão. “Eu estava
ali, argumentando com o senhor tenente André e ele pediu para eu mostrar
a carteirinha. Eu disse que não ia mostrar e quando eu mostrei a
carteirinha, ele me soltou.” Em seguida, ele mostra dois documentos que
comprovam que estuda mesmo na USP.
Sindicalista vê racismo
Segundo Diana Assunção,
diretora do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), o jovem é
estudante da USP-Leste. “Toda a mobilização contra a presença da PM na
USP no ano passado se expressou hoje [segunda-feira] com um policial
sacando uma arma. Talvez ele não tenha matado porque não estava na
favela.”
Para ela, o policial foi racista, pois o jovem abordado é negro. “Foi
um ato de racismo. Começou a ser truculento com o rapaz achando que ele
não era um aluno. Mesmo que não fosse, não poderia ocorrer dessa forma."
O policial nega que tenha sido preconceituoso na abordagem “O que você
sabe de racista? O que você está falando de racista? Ele me desacatou”,
disse a um aluno que questionava a maneira como o PM agiu.
Confusão
O prédio onde o desentendimento aconteceu é tido pelos estudantes como
um dos últimos espaços de convivência e de lazer na Cidade
Universitária. Na sexta, um princípio de confusão envolvendo alunos e
guardas da universidade ocorreu quando funcionários foram fechar as
entradas do edifício. A PM chegou a ser acionada.
Na ocasião, o estudante de Letras Rafael Alves, de 29 anos, reclamou do
fato de diversos objetos terem sido retirados de lá.
“Levaram duas
geladeiras, um freezer, discos de vinil, vitrola, carrinho de cachorro
quente para a Prefeitura do campus. Disseram que a gente poderá retirar
tudo na segunda. Quero ver se eles vão devolver.”
Estudantes dizem que ao menos dez alunos foram agredidos com socos e
chutes pelos guardas universitários. Segundo a PM, porém, ninguém ficou
ferido nem foi preso durante a confusão de sexta.Questionada, a
assessoria da USP disse não ter conhecimento de confusão nem de
agressão.
Ocupações
A relação entre os estudantes da USP e a PM é conflituosa desde o fim
de outubro, quando três estudantes foram detidos após serem abordados
com porções de maconha. Os alunos chegaram a entrar em confronto com os
policiais.
Em protesto contra a ação da PM, que os alunos consideram truculenta,
um grupo invadiu o prédio da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas (FFLCH) da USP. Depois, em assembleia, decidiram ocupar a
reitoria.
No início de novembro, após os alunos não acatarem decisão judicial
para a saída do edifício, policiais da Tropa de Choque entraram e
prenderam 70 pessoas. Eles foram indiciados por danos ao patrimônio
público e desobediência à ordem de Justiça. Em protesto contra as
prisões, estudantes de toda a universidade decidiram entrar em greve.
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