quarta-feira, 3 de abril de 2013

Bonfinópolis/GO: Mãe de jovem que morreu queimada cobra justiça: 'Não aguento mais'


01/04/2013 12h00 - Atualizado em 02/04/2013 12h40

Suspeita de atear fogo na vítima por ciúmes, há 2 meses, está solta, em GO.

Familiares retornaram pela primeira vez à chácara onde o crime aconteceu.

Adriano Zago e Elisângela NascimentoDo G1 GO
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Mikaelly Moreira Nunes, de 23 anos, morte após ter o corpo queimado, em Caldazinha, Goiás (Foto: Adriano Zago/G1)Mãe de Mikaelly beija a camiseta do colégio onde a filha estudava radiologia (Foto: Adriano Zago/G1)
A mãe de Mikaelly Moreira Nunes, de 23 anos, diz que não está suportando a ausência da filha, morta há dois meses após ser queimada com álcool. “Estou tendo que tomar remédio para dormir. Não aguento mais a saudade e a impunidade", desabafou a assistente de gabinete Elenice Moreira Nunes, em entrevista ao G1, na cidade de Guapó, onde mora com mais duas filhas.
Estudante de radiologia, Mikaelly morreu no dia 30 de janeiro, quatro dias depois de ter 75% do corpo queimado. Ela e o namorado, Flávio Eduardo da Silva Alves, de 33 anos, foram atingidos quando estavam em uma chácara em Bonfinópolis, a 45 quilômetros de Goiânia. O rapaz sobreviveu. A suspeita de cometer o crime é uma jovem de 20 anos, que teria ateado fogo no casal por ciúmes.
Pela primeira vez após o crime, familiares de Mikaelly retornaram à chácara, que ainda guarda várias marcas da tragédia ocorrida na tarde do dia 26 de janeiro. A mãe não foi porque teme não suportar entrar no local onde a filha foi queimada. No telhado da área, onde a vítima estava sentada à mesa, ainda estão as manchas do fogo. "Ela saiu desesperada em chamas e, por causa da altura das chamas, o fogo queimou parte do telhado e algumas plantas", lembra a empresária Cláudia Moreira Brito, tia de Mikaelly, que presenciou o fato.
No quarto onde a suspeita se escondeu após atear fogo no casal, ainda estavam o litro com álcool e a caixa de fósforos usada por ela, como mostra o tio da vítima Almir Moreira dos Santos, que cuida da propriedade. “A Mikaelly estava sentada com o Flávio na mesa da área externa, quando a garota jogou álcool nela e colocou fogo. A explosão e a imagem da cabeça da minha sobrinha em chamas não saem da minha memória. Foi horrível”, recorda-se o tio.
Mikaelly Moreira Nunes, de 23 anos, morte após ter o corpo queimado, em Caldazinha, Goiás (Foto: Adriano Zago/G1)Tio de Mikaelly mostra objetos queimados durante crime em chácara (Foto: Adriano Zago/G1)
Tudo no local está como no dia em que Mikaelly e o namorado foram queimados, como os tecidos que o tio usou para tentar apagar as chamas no corpo da sobrinha. Na imagem acima, ainda no chão, é possível ver o resto da vasilha, possivelmente um pote de sorvete vazio, onde o álcool foi colocado antes de ser jogado no casal.
Os tios dizem que pretendem vender a chácara. “Ninguém quer vir aqui mais. Era o cantinho da Mikaelly, lembramos dela em todos os cantos mas, infelizmente, também lembramos de tudo que aconteceu”, explica Cláudia.
Soltura
Após cumprir 30 dias de prisão provisória, a jovem de 20 anos apontada como autora do crime foi solta por determinação da Justiça. Segundo a polícia, ela cometeu o crime por ciúmes. A soltura revoltou familiares e amigos de Mikaelly. "Ela [suspeita do crime] não acabou somente com a vida da minha filha, mas acabou com a vida da minha família inteira", diz a mãe da vítima.
Mikaelly Moreira Nunes, de 23 anos, morte após ter o corpo queimado, em Caldazinha, Goiás (Foto: Adriano Zago/G1)Tios de Mikaelly dizem que pretendem vender a
chácara (Foto: Adriano Zago/G1)
A suspeita está sendo investigada por homicídio e tentativa de homicídio e ganhou a liberdade no último dia 6. Ela estava detida no 14º Distrito Policial (DP) de Goiânia desde o dia 31 de janeiro, mas o prazo da prisão provisória requerida terminou sem que o inquérito estivesse concluído ou houvesse algum novo pedido de prisão.
G1 procurou a suspeita em Bonfinópolis, onde ela mora, mas não a localizou. No dia 1º de fevereiro, ela prestou depoimento à polícia e negou ter tentado matar Mikaelly e ferir o namorado dela. Alegou que agiu em legítima defesa, pois tinha sido agredida pela vítima. Disse ainda que pegou um copo que estava sobre a mesa e jogou no casal, mas não sabia que o recipiente tinha álcool.
A garota contou que caiu no chão com o soco de Mikaelly e que, quando percebeu, tudo estava pegando fogo. Entretanto, a Polícia Civil afirma que houve uma tentativa de homicídio. "Não há dúvida de que ela tenha ateado fogo no casal”, declarou o então delegado de Senador CanedoThiago de Castro Teixeira, que ouviu o depoimento da jovem.
Ele foi substituído pelo delegado Jair Bastos, com quem o G1 tenta contato para saber sobre o andamento do inquérito. 
Revolta
Indignada com a liberdade da suspeita, a tia de Mikaelly desabafa: “A gente acreditava que uma pessoa que faz isso não poderia ser solta. Esperamos que ela pague pelo que fez. A Mikaelly era praticamente minha filha, até morou comigo durante dois anos. Minha filha me pergunta todos os dias porque a garota está solta e eu não sei responder”.
Segundo ela, a suspeita chegou a comentar que não gostava da sobrinha dela. “Várias vezes ela me disse que o santo dela não batia com o santo da Mikaelly, mas eu falava para ela que se quisesse fazer parte da família, teria que mudar, já que estava namorando um dos meus sobrinhos. Porém, nunca imaginei que seria tão fria para cometer uma coisa assim. Ela comia na mesma mesa que a gente comia”, diz Cláudia com a voz embargada.
Para o tio de Mikaelly, a suspeita se aproximou da família com o intuito de prejudicar a sobrinha. “Isso foi tudo premeditado. Ela não gostava da minha sobrinha e queria fazer alguma coisa contra ela. Algumas vezes contávamos piadas ou alguma coisa engraçada e ela não abria um sorriso. Todo mundo achava isso estranho”, argumenta o chacareiro Almir Moreira dos Santos. Ele está inconformado com o crime. “A gente espera uma resposta do poder público. Queremos justiça. Nós não temos dinheiro e pedimos que qualquer advogado possa nos ajudar”, ressalta.
Esse crime não pode ficar impune"
Elenice Nunes,
mãe de Mikaelly
Além de ter que conviver com a saudade da filha, Elenice teme que outra atrocidade possa acontecer com outros membros da família, por causa da soltura da suspeita de atear fogo em Mikaelly. “Eu tenho medo que aquela menina possa fazer algo com as minhas filhas. Saio para trabalhar e uma delas fica trancada dentro de casa com medo. Não sei como soltaram ela alegando que ela não oferece perigo se até os familiares dela acham que ela deveria ficar presa", questiona.
Elenice se diz desiludida: "Desanimei com a Justiça. Por mais que seja pouco, eu achava que ela iria pagar pelo que fez. Até o delegado responsável ficou indignado com o habeas corpus”. Irmã da vítima, Talita Moreira Nunes afirma que sente medo: "Se ela foi capaz de fazer aquilo com minha irmã, ela pode fazer com qualquer uma de nós".
Mikaelly Moreira Nunes morre após ser queimada junto com namorado, em Caldazinha (Foto: Reproção/Facebook)Mikaelly e Flávio tinham planos de se casar, diz
mãe da jovem (Foto: Reprodução/Facebook)
Estudo e casamento
A mãe de Mikaelly chora sempre que segura o uniforme e os livros da filha, que estava fazendo estágio em um hospital e iria terminar o curso de radiologia no próximo mês de junho. “Ela sempre me falava que queria terminar o curso para ajudar as pessoas. Não era muito de festa, estudava muito. Passava o tempo todo com os livros”.
Elenice conta que a filha também estava planejando se casar. “Ela já estava falando em casamento com o Flávio. A vida dela foi interrompida em um momento que ela estava muito feliz. Não teve nenhum motivo pra isso tudo”, desabafa.
Sem condições de pagar um advogado, ela teme que o assassinato fique impune. “Quero que as autoridades possam me ajudar, pois não posso fazer nada. Acho muito triste não ter condições de pagar um advogado, mas quero justiça. Esse crime não pode ficar impune. Sinto muita saudade da minha filha. Não sei se vou dar conta de viver sem ela”, lamenta.
A morte
A mãe, que ficou no hospital durante os quatro dias que a filha esteve internada, conta que entrou em desespero ao ver o estado da menina logo após o acidente e já temia que ela não sobrevivesse. “Eu estava pescando em uma chácara quando fiquei sabendo que a Mikaelly tinha se queimado. Mas, primeiro, me contaram que era apenas um braço. Porém, quando eu cheguei no hospital e me disseram que ela tinha queimado 75% do corpo, sabia que ela não iria aguentar, porque minha filha era muito frágil”, justifica.
Ela se lembra da última conversa que teve com filha. “A última coisa que ela me disse foi: 'Fala para o paixão [Flávio] que estou morrendo de saudades e mandei beijo'. Depois disso, no outro dia, os médicos me falaram que ela tinha dado três paradas cardíacas e não tinha resistido”, conta Elenice com os olhos lacrimejados.
A tia de Mikaelly lembra que, mesmo após ver a cena do crime e gravidade dos ferimentos da sobrinha, teve esperanças de que a jovem se recuperasse. “Eu fui embora para minha casa, no interior de São Paulo, e estava muito crente que ela iria se recuperar. Nunca achei que uma queimadura pudesse ser tão grave”, disse a empresária Cláudia Moreira Brito.
Mikaelly Moreira Nunes, de 23 anos, morte após ter o corpo queimado, em Caldazinha, Goiás (Foto: Adriano Zago/G1)Mãe guarda o material usado por Mikaelly no curso de radiologia (Foto: Adriano Zago/G1)

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