segunda-feira, 18 de abril de 2016

Brasília / DF: Vitória da oposição na Câmara foi costurada até as últimas horas

367 votos18/04/2016 | 01h42Atualizada em 18/04/2016 | 01h47

Temer e aliados ficaram em negociação até a madrugada de domingo, quando mensagem confirmando apoio do PP levou alívio ao Jaburu

Vitória da oposição na Câmara foi costurada até as últimas horas Diego Vara/Agencia RBS
Foto: Diego Vara / Agencia RBS
Carlos Rollsing e Guilherme Mazui e de Brasília
Madrugada de domingo, a 10 horas da votação do impeachment na Câmara, o ex-ministro Eliseu Padilha, negociador do vice-presidente Michel Temer, recebeu uma mensagem no WhatsApp:
– O PP fechou com Michel.
Era o prenúncio da vitória de Temer sobre o PT, que se encaminha para encerrar uma hegemonia de 13 anos do partido de Luiz Inácio Lula da Silva na política nacional.
Os 367 votos a favor do impeachment foram construídos em negociações ao longo da última semana. E uma das mais complexas ocorreu com o PP. Eram 4h30min quando o aviso chegou ao celular de Padilha. A mensagem, informando a certeza do apoio da sigla, foi enviada pelo senador Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP. Pouco antes, um grupo de deputados da sigla e Ciro foram ao apartamento funcional do ex-líder da bancada Dudu da Fonte (PP-PE), que acertava com o Planalto o voto contra o afastamento de Dilma em troca da manutenção do poder no Ministério da Integração Nacional. Ameaçado de expulsão, Dudu se alinhou à decisão do PP. O acordo já havia sido alinhavado na tarde de sábado, quando Temer recebeu o parlamentar no Palácio do Jaburu para uma conversa. No final, sete dos 45 parlamentares do PP votaram com o governo – Waldir Maranha¿o (MA) e baianos puxaram as dissidências.
 A residência oficial do vice se transformou em comitê permanente da ¿candidatura¿ de Temer, em campanha na ¿eleição indireta¿ contra a presidente com quem ele dividiu a chapa em 2010 e 2014. Por três dias houve bufê servido o tempo todo, com quibe, sanduíches, bolos, frutas e sucos. No sábado, sete seguranças e um militar guardavam a entrada do Jaburu. Na véspera da votação, carros não paravam de cruzar o pórtico da residência. Eram parlamentares em romaria para derradeiras articulações, promessas de apoio e o beija-mão a Temer, àquela altura considerado o futuro presidente do Brasil por seus aliados.

Atenção especial aos movimentos de Picciani 
 O vice recebeu mais de cem deputados. Ao seu lado, estavam Padilha e o senador Romero Jucá (PMDB-RR). Tarefas eram distribuídas para conter o governo, que comemorava a virada do voto do deputado Waldir Maranhão (PP-MA), aliado de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A missão era desconstituir o discurso de que havia perda de força. Preocupado, Temer reviu o plano de acompanhar a votação em São Paulo. Viajou na sexta-feira, fez conversas políticas, sondou nomes para o Ministério da Fazenda, e voltou a Brasília.
– Vamos acompanhar e esclarecer que não perdemos forças. O governo faz um ataque especulativo. É importante que se mostre a verdade – dizia Jucá, que desafiou o PT a "ver qual partido se sairá melhor nas eleições de 2016 e 2018".
Os deputados Darcísio Perondi (RS), Osmar Terra (RS), Carlos Marun (MS), Baleia Rossi (SP), todos do PMDB, também estiveram no Jaburu. Admitiam receio com Leonardo Picciani (RJ), líder da bancada. Ele fez um acordo com Temer: orientaria pelo voto pró-afastamento e não faria articulações em favor de Dilma. Mas esteve em reuniões com a presidente e o ministro Ricardo Berzoini na sexta-feira e no sábado. Os passos de Picciani eram monitorados em tempo real. Na sexta-feira, Padilha avistou Perondi em um corredor da Câmara, arrastou-o para um lugar menos movimentado e disse que o líder estaria no Planalto. A tarefa de Perondi era descobrir se era verdade – e era –, contatar a bancada do Rio e provocar uma reação.
– Coloca em risco a liderança dele na bancada –disse Terra, em referência a Picciani.
Temer optou por evitar ¿conflitos maiores¿. A intenção é não conflagrar as delicadas relações dos caciques do PMDB. Qualquer atrito poderia gerar problema com Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, o que pode atrapalhar o andamento do afastamento de Dilma na Casa.
O vice ganhou o reforço da ex-governadora Roseana Sarney (PMDB-MA). Ela baixou em Brasília e ajudou a conter a sangria na bancada do Maranhão. Retomou apoios. Seu irmão, Sarney Filho (PV-MA), segurou maioria na bancada do PV pelo impeachment.A traição cristalizada se mostrou a partir do voto do ex-ministro da Aviação Civil Mauro Lopes (PMDB-MG). Ele se licenciou do cargo para votar a favor de Dilma na Câmara, mas as pressões o levaram a romper a fidelidade. No sábado à noite, Lopes gravou um vídeo para oficializar que a bancada mineira do PMDB votaria pelo impeachment.
– Michel foi duro com ele. Lembrou que os dois têm história juntos no PMDB – informou um emissário do vice-presidente. 
Negociação com partidos envolveu Eduardo Cunha
Nos últimos dias, o cenário teve momentos distintos. Liderando, a oposição chegou a exagerar na dose de empolgação. O governo virou o voto de Waldir Maranhão (PP-MA) e comemorou o apoio de Fernando Giacobo (PR-PR), que levou um cargo em Itaipu – o deputado acabou votando pelo impeachment. O PR, de bancada dividida, foi enquadrado nos últimos dias por Eduardo Cunha.
A todo instante, alguém precisava sair correndo para conter movimentos perigosos. Com as versões de que o PP entregaria 12 dos seus 45 votos ao governo, acendeu o alerta no comitê pró-impeachment. Quando os mapas foram revisados na sexta, Paulo Maluf saiu da tabela a favor e virou indeciso. Pela manhã, Esperidião Amin (SC) ligou para ele, que lhe respondeu:
– Amin, você me conhece. Comigo não tem essa.
Maluf tomou café com Temer, que ainda comemorava a entrega da carta de demissão do ministro das Cidades, Gilberto Kassab (PSD). Dias antes do gesto, Kassab esteve reunido com Jucá. E ainda mais atrás, havia prometido votos ao governo na bancada do PSD.
As conversas se estenderam para outros recantos da capital federal. No sábado, a Frente Parlamentar da Agricultura e a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) promoveram almoço com centenas de pessoas ligadas ao agronegócio. Nas rodas de conversa, presidentes de sindicatos reclamavam da ministra da Agricultura, Kátia Abreu, que também é presidente licenciada da CNA. Diziam que ela deu as costas ao setor – a entidade se associou à deposição da presidente – em nome de uma relação pessoal com Dilma.
– O que mais ouvi foi sobre o isolamento da Kátia Abreu – contou Jerônimo Goergen (PP-RS).
Na manhã de domingo, certos da vitória, mas ainda trabalhando para evitar surpresas, Padilha foi ao Congresso e visitou diversas bancadas, enquanto Temer seguia recebendo parlamentares no Jaburu. À tarde, todos pararam em frente à TV, munidos de mapas para acompanhar a votação. No entra e sai do palácio, ninguém mais chamava o peemedebista de ¿vice-presidente¿. Mesmo faltando a posição do Senado sobre o futuro de Dilma, Temer já é chamado de ¿senhor presidente¿.

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