terça-feira, 12 de abril de 2016

JOL (RS): Por falta de recursos do Estado e da União, apenas 17 UPAs estão em funcionamento

Desperdício na saúde12/04/2016 | 03h02Atualizada em 12/04/2016 | 03h02

Impasse para custeio dos serviços pode resultar no desperdício de R$ 51 milhões investidos para erguer 56 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs)

Por falta de recursos do Estado e da União, apenas 17 UPAs estão em funcionamento Anderson Petroceli/Especial
Uma unidade de porte 2, como a de Uruguaiana, exigiria, em média, R$ 462 mil da prefeituraFoto: Anderson Petroceli / Especial
Em pelo menos 14 municípios gaúchos, estruturas destinadas a reforçar o atendimento à saúde da população estão prontas, mas permanecem fechadas em razão de um impasse entre municípios, Estado e União para garantir o custeio dos serviços.
Como resultado desse entrave, mais de R$ 51 milhões investidos para erguer Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) correm o risco de ser desperdiçados. O Ministério Público Estadual e o Federal vão participar de negociações em cada cidade para tentar destravar os projetos que poderiam atender quase 100 mil pessoas por mês.
As UPAs são parte de um programa federal destinado a criar uma rede de atendimento 24h, de complexidade intermediária entre os postos de saúde e os hospitais. No Rio Grande do Sul, prefeituras manifestaram interesse em erguer 56 dessas unidades, com custos compartilhados entre municípios, Estado e União. O problema é que foram inaugurados apenas 17 serviços, e outros 14 estão prontos, mas vazios. Os restantes 25 se encontram em fase de projeto ou obras.
A principal razão alegada pelos prefeitos para manter as portas trancadas é a falta de dinheiro para sustentar o atendimento. Quando os valores de manutenção foram definidos, em 2011, o custo foi dividido entre as esferas de governo em valores que correspondiam a 50% a serem pagos pela União, 25% pelo Estado e 25% pela prefeitura. A Federação das Associações de Municípios do Estado (Famurs) argumenta que, na prática, distorções fazem com que a maior parte da conta acabe recaindo sobre os prefeitos. Assim, alegando falta de recursos, preferem manter as UPAs sem uso.
– Os municípios não têm como arcar com os custos para abrir as unidades – afirma o coordenador-geral da Famurs, Márcio Espíndola.
Segundo a Famurs, há três razões principais para o impasse. Uma delas é que o Ministério da Saúde demoraria até seis meses para fazer a vistoria exigida em lei, após a abertura das UPAs, e habilitar as prefeituras a receber os repasses. Outro problema são os atrasos nas transferências do Estado, que somaram R$ 292 milhões entre 2014 e o ano passado – o que obriga os municípios a aumentar seu desembolso. Por fim, há queixa de defasagem entre o valor estimado nos contratos para colocar as UPAs em operação e o custo real, mais elevado.
De acordo com o assessor técnico da Famurs para a área da saúde, Paulo Azeredo, na prática, mais de 60% do gasto tem de ser coberto pelas prefeituras. Entre as possíveis soluções aventadas está a flexibilização das regras do governo federal para permitir que as UPAs sejam abertas durante menos horas do dia, ou que ofereçam atendimentos mais simples, com menos profissionais, reduzindo o gasto mensal. Também são buscados reajustes nos repasses da União e do Estado – mas a atual crise financeira dificulta essa iniciativa.
A Secretaria Estadual da Saúde (SES) argumenta que os débitos de 2014 e 2015 foram renegociados e estão sendo pagos em 24 parcelas. Sustenta, também, que as prefeituras concordaram com as regras do programa quando se candidataram a receber uma UPA.
– Estamos repassando cerca de R$ 2,6 milhões por mês para 13 UPAs (duas não recebem porque não prestam o atendimento previsto em contrato, e duas estão em fase de habilitação), o que mostra que é possível abrirem as portas – afirma o secretário-adjunto da SES, Francisco Paz.
O Ministério Público já informou aos prefeitos não concordar com a redução no atendimento previsto em contrato. Os MPs Estadual e Federal realizaram uma reunião na semana passada, com a presenta de prefeitos e da SES, para buscar uma saída. Ficou acertado que promotores e procuradores deverão analisar a situação de cada município em busca de medidas específicas. Procurado por ZH, o Ministério da Saúde não se manifestou. Não há prazo para uma solução.
Municípios se adaptam para abrir as portas
Cidades gaúchas estão começando a buscar medidas alternativas, por conta própria, para abrir as UPAs. Erechim, por exemplo, há cerca de um mês resolveu colocar a unidade em funcionamento por apenas 12 horas ao dia, contrariando a norma que prevê atendimento ininterrupto. Nesse caso, a prefeitura não se habilita a receber as contrapartidas do Estado e da União, mas consegue sustentar o serviço com recursos próprios. Cruz Alta seguiu caminho semelhante e reduziu o serviço da UPA ao equivalente a um posto de saúde comum.
Em Erechim, para otimizar a utilização do espaço, também foram deslocados para a área da UPA uma Unidade Básica de Saúde, um serviço de fisioterapia, um centro de referência em saúde da mulher e uma unidade de feridas crônicas. Fora do horário de funcionamento, os casos de emergência seguem sendo encaminhados para o pronto-socorro do hospital da cidade. O município informa que estão sendo feitas tratativas com o Ministério da Saúde e o Ministério Público para legalizar a receita aplicada.
Com a adaptação, o custo mensal fica em torno de R$ 120 mil, com um clínico-geral por 12 horas, três enfermeiros, técnicos de enfermagem e pessoal administrativo. Segundo a Famurs, se fosse funcionar de acordo com os parâmetros do Ministério da Saúde, uma unidade de porte 2, como a de Erechim, exigiria, em média, o desembolso de R$ 462 mil da prefeitura – quase o dobro do que deveria caber ao município conforme o previsto. Como o gasto real é mais elevado, segundo a Famurs, a diferença teria de sair do cofre da prefeitura.






















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