sexta-feira, 15 de abril de 2016

Porto Alegre / RS: 'Estar viva é um detalhe' conta jovem atropelada em suposto racha no RS

15/04/2016 08h48 - Atualizado em 15/04/2016 08h48

Rafaela Cruz Perrone foi atingida por carro após acidente em Porto Alegre.

A jovem, 24 anos, está internada desde 2 de abril, data do atropelamento.

Do G1 RS
Atropelada durante um racha no bairro Moinhos de Vento em Porto Alegre, Rafaela Cruz Perrone, 24 anos, acredita que só ficou viva por um detalhe. Ela e o namorado Thomaz Coletti, de 25 anos,foram atingidos quando passeavam com um cachorro no Parcão, na madrugada do sábado, dia 2 de abril. Desde então, a jovem está internada no Hospital Moinhos de Ventos.
“Eu acho que eu estar viva é um detalhe. Eu não conseguia me levantar, eu não consegui me mexer. Eu pensei, ‘eu não posso fechar os olhos’. por que a sensação que dá é se eu fechar os olhos, eu vou morrer”, lembra Rafaela.
Rafaela Cruz Perrone jovem atropelada (Foto: Reprodução/RBS TV)Jovem diz que teve medo de morrer após acidente
(Foto: Reprodução/RBS TV)
Imagens captadas por câmeras de segurança e de vigilância interna de prédios da região mostram um Audi andando em alta velocidade pela Avenida 24 de Outubro. O carro colide contra um táxi, e depois atinge outro veículo que estava estacionado ao lado do Parcão. O automóvel subiu a calçada e atingiu o casal.
Rafaela relata que teve medo de morrer após o acidente. Ela também se diz impressionada com a postura do motorista Thiago Brentano, de 39 anos, que dirigia o Audi que causou os acidentes. Após as colisões, ele deixou o local sem prestar auxílios.
O mais chocante é tu ver uma pessoa que não tem um pingo de humanidade. Tu bate em um taxi, em um carro, atinge outras pessoas, tu tem um amigo ferido no carro e tu vai embora e tu não presta nenhum socorro?"
Rafaela Perrone
“O mais chocante é tu ver uma pessoa que não tem um pingo de humanidade. Tu bate em um taxi, em um carro, atinge outras pessoas, tu tem um amigo ferido no carro e tu vai embora e tu não presta nenhum socorro? Isso me choca”, diz a jovem.
O advogado que auxilia o promotor no caso espera uma punição exemplar para Thiago Brentano, o motorista que provocou a colisão. Ele dirigia com a carteira cassada depois de ingerir bebidas alcoólicas.
“Ele tem que ser penalizado sim. Não por um simples acidente, mas por tentativa de homicídio qualificada pela futilidade da conduta dele. Isso tem que ser um basta”, afirma Ricardo Breier.
Dono do Audi, Thiago Brentrano (esq), chegou em delegacia com advogado (Foto: Reprodução/RBS TV)Dono do Audi, Thiago Brentrano (esq) chegou a
delegacia com advogado (Foto: Reprodução)
Motorista presta depoimento
O motorista do Audienvolvido no acidente prestou depoimento por cerca de uma hora e meia na tarde de quarta-feira (13) no Palácio da Polícia, em Porto Alegre. Segundo o advogado Jader Marques, que o representa no caso, ele reconheceu que havia bebido duas garrafas long neck de cerveja, negou que estivesse disputando um racha e afirmou não ter visto que um casal havia sido atropelado na ocasião, e por isso deixou o local.
Foi a segunda vez que Thiago Brentano, 39 anos, compareceu à delegacia. Na primeira, em 4 de abril, ele permaneceu em silêncio. Ele comentou o fato de uma comanda do estabelecimento em que estava ter apontado a compra de 10 garrafas, afirmando que compartilhou a bebida com amigos. "Há provas que as demais bebidas foram consumidas na festa por demais pessoas e que sobrou saldo no cartão", observou Marques.
Brentano admitiu para o delegado Carlo Butarelli, responsável pelo caso, que estava "sem condições de dirigir" o carro. "Ele afirma seu erro de ter utilizado o veículo naquela noite", confirmou o advogado.
Veículo de luxo participava do racha em Porto Alegre (Foto: Zete Padilha/ RBS TV)Audi participava de suposto racha em Porto
Alegre (Foto: Zete Padilha/ RBS TV)
Em relação ao suposto racha, o advogado disse que a versão de Brentano é que ele não conhecia o motorista do outro carro que trafegava ao seu lado. Diz que acelerou por receio de que se tratava de uma tentativa de assalto. Entretanto, ele negou que o outro veículo seria um Camaro. "O Camaro dobrou a (Rua Coronel) Bordini à direita e não foi o veículo identificado naquele vídeo que nós podemos ver na internet. Aquele carro não é um Camaro", disse Marques.
Ainda conforme o advogado, Brentano disse que não costuma dirigir, já que teve a habilitação suspensa, e que o Audi estava provisoriamente com ele para a realização de um negócio. Marques afirma que notas fiscais de táxis e Uber confirmam que ele costuma utilizar estes serviços para se locomover.
Segundo a Polícia Civil, Brentano estava com a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) suspensa e tem 52 multas de trânsito.

Polícia pretende concluir inquérito na sexta-feira
O delegado Carlo Butarelli já adiantou que deve concluir o inquérito ainda esta semana. Resta ainda o resultado do exame da perícia, que vai apontar a velocidade que o veículo estava na hora da batida, observou o delegado.
Na terça-feira (12), dois policiais militares prestaram depoimento e confirmaram que Brentano participava de um racha antes do atropelamento. Os PMs estavam no cruzamento das ruas Doutor Timóteo com a 24 de Outubro quando dois veículos passaram em alta velocidade por eles, um deles o Audi.

Conforme o delegado Butarelli, os PMs chegaram a iniciar uma perseguição. Entretanto, uma quadra adiante, o Audi cruzou o sinal vermelho e colidiu em um táxi que havia passado pelo sinal verde. Na sequência, o carro acabou atingindo um veículo que estava estacionado. Com o impacto, o automóvel que estava parado foi jogado para cima do casal, que passeava no Parcão.
Os PMs foram os primeiros a chegar no local e se preocuparam em prestar socorro aos feridos. Logo após, entretanto, um deles começou a perseguição ao motorista do Audi, que teria fugiu à pé por dentro do Parcão (assista ao vídeo), segundo relato dos policiais. Ele acabou perdendo o homem de vista e desistiu do acompanhamento. No entanto, o delegado relata que os PMs não conseguiram reconhecer o homem. 

Para a polícia, o depoimento deles comprova a participação do dono do Audi em um racha e ainda reforça que Brentano estava dirigindo o veículo. Na segunda-feira (11), o homem que estava na carona do veículo afirmou que o amigo estava na direção. "O carona confirmou que era o Thiago o motorista do carro. Agora temos a certeza de quem estava na direção", disse o delegado ao G1.
Ainda durante o depoimento, o passageiro não confirmou o racha. "Ele disse que estava mexendo no celular e sentado no banco, não viu o que estava acontecendo", explicou Butarelli.

Além dos PMs, uma viatura da EPTC também estava no cruzamento das ruas Doutor Timóteo com a 24 de Outubro. Os agentes de fiscalização de trânsito teriam visto o racha e se deslocado até o ponto do atropelamento. Por isso, eles também devem ser ouvidos. Um outro taxista também vai prestar depoimento.
Além do carona, a polícia ouviu também o suposto motorista do Camaro que estaria no racha, o dentista Sandro Flamia. No entanto, ele negou que estivesse no local no momento do acidente, o que ainda será investigado.
"Ouvimos o motorista do Camaro, na condição de testemunha, pois não temos certeza que é o Camaro dele. Ele falou que é amigo do Thiago, e que no momento [do acidente] aquele Camaro não estava lá. Ele havia entrado à direita algumas ruas antes", afirmou o delegado.

Para a RBS TV, o dentista Sandro Flamia voltou a afirmar que não era o carro dele flagrado nas imagens. "Não tem nada a ver com o meu carro, vocês vão ver depois.(...) Eu tenho certeza absoluta, o meu carro não é aquele lá."
O motorista disse que encontrou na festa o condutor do Audi, que é seu amigo. "Me viram lá na festa com ele e aí acharam que era eu. (...) Não faço parte disso tudo."
O caso
Na madrugada de sábado, dia 2 de abril, o motorista do Audi trafegava em alta velocidade pela Avenida 24 de Outubro. Depois de passar o sinal vermelho, na esquina com a Rua Olavo Barreto Viana, o veículo se chocou contra um táxi, e depois atingiu um veículo que estava estacionado ao lado do Parcão.
Vítima de atropelamento Thomaz Coletti prestou depoimento à polícia (Foto: Josmar Leite/RBS TV)Vítima de atropelamento Thomaz Coletti, 25 anos,
prestou depoimento (Foto: Josmar Leite/RBS TV)
Com o impacto, o automóvel subiu a calçada e atropelou o casal de jovens. Eles foram encaminhados a hospitais.
O homem prestou depoimento após receber alta. "Foi algo muito rápido, não teve tempo de reação porque não havia como ter reação (...) espaço curto de tempo devido à velocidade que carro vinha", relatou Thomaz Coletti, de 25 anos.
Também havia um carona no Audi, que teve ferimentos leves no acidente. O taxista Marco Gaudério relatou, após o acidente, que os carros passaram em alta velocidade.
"Eu me lembro que o sinal estava aberto pra mim. Eu estou descendo e, quando vi, o cara me bateu. Ele vinha muito rápido, não deu pra ver nada. Só fiquei em estado de choque, é uma coisa que a gente não espera", afirmou ele após o susto.

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