quarta-feira, 18 de maio de 2016

Porto Alegre / RS: Mulheres presas em manifestação em Porto Alegre relatam agressões da BM

17/05/2016 19h37 - Atualizado em 17/05/2016 21h27

Elas negaram que tivessem lançado objetos em direção aos policiais.

Comando da Brigada Militar diz que agiu conforme o protocolo.

Do G1 RS
Jovens agredidas em Porto Alegre (Foto: Reprodução/RBS TV)Jovens que afirmaram terem sido agredidas em Porto Alegre deram entrevista (Foto: Reprodução/RBS TV)
As quatro mulheres presas durante uma manifestação em Porto Alegre na última sexta-feira (13) relataram nesta segunda-feira (16) que sofreram agressões pela Brigada Militar durante o ato. As declarações foram dadas em um encontro realizado na Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (Ajuris). O comando da Brigada Militar afirma que a corporação agiu de acordo com a lei
O protesto iniciou na Esquina Democrática e depois seguiu em caminhada que terminou próximo ao Largo Zumbi dos Palmares, onde houve o confronto. Em nota, a Brigada Militar disse que agiu conforme o protocolo.
Questionadas por jornalistas, as quatro mulheres negaram que tivessem lançado objetos como pedras ou garrafas, em direção aos policiais, o que teria motivado o arremesso das bombas. A estudante de jornalismo Nicole Loss classifica as prisões como um efeito dominó.

Ela e outras três amigas viram quando a estudante de jornalismo Carolina Fortes foi detida por policiais. A artista visual Alexandra Fortes foi tentar ajudá-la, mas acabou detida. Em seguida, Nicole também presa, ao tentar prestar socorro para as amigas. Por último, a estudante de direito Júlia Gomes foi algemada ao ir à delegacia.
Jovens agredidas em Porto Alegre (Foto: Reprodução/RBS TV)Imagem mostra hematoma em mulher presa
(Foto: Reprodução/RBS TV)
Segundo Carolina Fortes, ela correu para Avenida Loureiro da Silva, quando foi abordada por dois homens. "Pensei que eles iam me ajudar, oferecer vinagre, alguma coisa do gênero. Aí de repente me pegaram um em cada braço e falaram assim: 'Fica bem quietinha, não grita, não grita, só vai para o chão'. Aí neste momento comecei a gritar muito pedindo ajuda, pedindo que as pessoas me ajudassem."

A estudante relata que foi jogada no chão e agredida. De acordo com o relato, um outro policial se aproximou e sentou em cima dela, para forçar a ficar no chão. "(Ele) pegou meus braços, começou a colocar pra trás das minhas costas. Superviolento. Levantou e me enforcou. Eles fez isso umas três vezes. Eu tive que gritar, implorar pra ele parar de me enforcar. Porque ele estava de fato me deixando sem ar. Eu achei que ele ia me matar."
Jovens agredidas em Porto Alegre (Foto: Reprodução/RBS TV)Uma das jovens é presa pelos policiais militares (Foto: Reprodução/RBS TV)
Em seguida, segundo ela, foi levada por ele de forma "extremamente" violenta. "(Ele) quase quebrou meu braço três vezes. Eu pedi pra ele: 'pelo amor de Deus, me solta, tu vai quebrar meu braço, está doendo muito'. E nisso ele foi me levando, já tinha me algemado." A jovem relata que o policial colocou duas algemas nela, uma delas muito apertado, o que gerou vários hematomas, segundo a estudante.
Jovens agredidas em Porto Alegre (Foto: Reprodução/RBS TV)Jovem mostra marca das lesões no corpo
(Foto: Reprodução/RBS TV)
Nicole contou aos jornalistas que a manifestação se preparava para dispersar, ao chegar no Largo Zumbi dos Palmares. Subitamente, começaram a ser arremessadas as bombas. "O (Batalhão) de Choque estava escondido e apareceu jogando bomba e aí a gente começou a correr. (...) A cavalaria veio para cima, estavam vindo com violência para a gente, eles estavam provocando um confronto violento," sustenta.

Ao ver a amiga Carolina no chão, ela correu para ajudar. Entretanto, foi cercada por cinco policiais e presa. Ela e Alexandra foram colocadas em uma viatura, ambas algemadas. "Eu levei duas cacetadas quando já estava algemada. Foi uma violência bem desproporcional", diz.
Já a estudante de direito Júlia Gomes conta que viu quando as amigas foram agredidas, mas não conseguiu avançar para ajudar, já que, segundo ela, foi atingida por bombas lançadas pela Brigada Militar. "Atingiram duas: uma lesionou meu joelho esquerdo. A outra meu braço direito. A do rosto consegui escapar. E também uma bomba que eles jogaram em meus pés.  E que feriu meu pé direito. Nisso eu sai dali."
Jovens agredidas em Porto Alegre (Foto: Reprodução/RBS TV)Mulher acabou ferida em um dos braços
(Foto: Reprodução/RBS TV)
A jovem descobriu que as amigas estavam na 3ª Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA). Júlia foi até lá para registrar ocorrência. Foi quando foi presa.
Artista visual filmava dispersão
A artista visual Alexandra Aguiar Assunção conta que se perdeu das amigas, durante a dispersão do protesto. Após passar mal e ser auxiliada por um comerciante, ela conta que voltou a filmar, o que vinha fazendo desde o início do protesto. "Então eu ouvi um grito, que era o grito da Carolina, quando eu estava filmando, quando eu olhei o grito eu olhei dois caras de jaqueta preta, calça jeans, batendo em uma mulher."
Ela atravessou a rua, na intenção de ajudar a amiga, quando foi abordada por dois policiais. "Eles me arrastaram, eles quase quebraram meus dois braços, com forca desproporcional", diz a mulher. No caminho para o viaduto da Avenida Borges de Medeiros, ela relata que teria sido ofendida. "Ele fez diversos comentários horrorosos no meu ouvido, me chamando de vagabunda, dizendo que eu era uma bêbada, que eu merecia aquilo, entre outras coisas que eu não lembro. E eu sentia meus ossos praticamente estralarem." Alexandra nega ter cometido desacato.

BM diz que agiu conforme protocolo
O comando da Brigada Militar disse que a corporação agiu de acordo com a lei, cumprindo o  protocolo que orienta a ação dos policiais em caso de obstrução de vias públicas, firmado no ano passado. 
Comitiva manifesta apoio à BM
Uma comitiva integrada por parlamentares entregou na manhã desta terça-feira (17) um documento em apoio à Brigada Militar (BM) para o comandante-geral da corporação, Alfeu Freitas Moreira, sobre a atuação dos policiais militares nas manifestações ocorridas na Cidade Baixa. Um grupo de deputados foi recebido pelo coronel Freitas, no Quartel do Comando-Geral da BM, no centro da capital gaúcha.

No encontro, o comandante-geral da BM reforçou que a corporação cumpriu o protocolo que orienta a ação da BM em casos de obstrução em vias públicas, firmado no ano passado.

O documento será assinado por outros parlamentares e entregue ao governador José Ivo Sartori nesta quarta-feira (18) no Palácio Piratini.
Deputados de três partidos criticaram ação da BM
Na segunda-feira (12), deputados estaduais de três partidos de oposição se encontraram com o governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori, para apresentar queixas sobre a conduta da Brigada Militar nas duas manifestações contrárias ao presidente em exercício Michel Temer ocorridas na quinta (12) e na sexta-feira (13) em Porto Alegre. Na visão deles, houve violência nas ações.
Participaram do encontro os deputados Manuela D'Ávila (PcdoB), Pedro Ruas (PSOL), os petistas Luiz Fernando Mainardi, Stela Farias, Adão Villaverde, Edegar Prett, Tarcisio Zimmermann, Nelsinho Metalúrgico, além de representantes de entidades sindicais e movimentos sociais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário